Ligeiramente Grávida

Ligeiramente Grávida – Tatiana

O “Ligeiramente Grávida” de hoje tem um relato emocionante e lindo da Tatiana. Ela, que sempre teve medo de parto, decidiu fazer um parto natural na água. O parto da Malu foi feito com todo o cuidado em um hospital de Londres.

Leiam essa experiência única que a Tatiana compartilhou com a gente!

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Sempre tive medo de parto. Quando engravidei, não foi diferente. Como uma pessoa pode sair do nosso corpo de maneira confortável? “Confortável” existe? A possibilidade de cortar a barriga me dava pavor, a alternativa de imaginar que um bebê possa esticar o túnel da vagina pra sair também não soava nada agradável. Passei a maior parte da gravidez ignorando o fato de que essa era uma escolha que eu não tinha como fugir. Os nove meses chegariam, e querendo ou não, a minha garotinha sairia de dentro de mim. Foi no sétimo mês que resolvi largar a covardia de lado, e tomar uma decisão.

Tudo o que eu escutava sobre gravidez parecia belo, mágico e único! Dos três, eu concordo que é único! A beleza e a magia da minha primeira gestação, infelizmente, vieram com muitos dos desconfortos previstos pela medicina.

Um sono insaciável no começo, seguidos por enjoos insistentes, logo então vieram os vômitos fortíssimos, seguidos das enxaquecas insuportáveis, e, finalmente uma dor alucinante nas costas. De quebra, no meu sétimo mês de gestação, a dor nas costas se espalhou pra perna, me deixando de muletas. Passei os últimos dois meses de molho em casa, num quadro conhecido como ciática (quando o útero se posiciona estrategicamente em cima do nervo ciático, pressionando o nervo e comprometendo a movimentação das pernas). Quanto mais o bebê cresce, mais pesa, e mais dói. Cura: o bebê sair de cima do nervo ciático… Foi importante manter o bom humor pra garantir que a minha bebezinha sentisse como ela era muito amada e desejada, apesar de todos os efeitos colaterais. Felizes são as mulheres que curtiram a sua gravidez! Eu não consto nessa lista! Mas e o parto? Se a gravidez foi assim, como seria o gran finale das minhas 40 semanas? Eu via o parto de maneira absurdamente assustadora…

Na minha cabeça: os fatos… Eu iria sentir dor. Eu teria um período pós parto de cicatrização desconfortável. E independente da escolha do parto, caso existissem complicações, a equipe médica tomaria as rédeas da situação, e fariam o que fosse necessário para manter a segurança e a saúde da mãe e do bebê, ignorando assim as minhas preferências. Pensar tanto na escolha do parto era quase em vão… Não bastasse o meu corpo ter sido colonizado por essa fábrica de bebê que eu não tinha qualquer controle. No parto, o controle também não era meu. Mas, de maneira otimista, assim como todas as grávidas do planeta (imagino eu) desejei que tudo desse certo e que eu, assim, pudesse ter o parto ideal para mim e para a minha pequena. Escolhi a dor que eu queria viver, e comprei a ideia e todos os seus encantos! A equipe do hospital registrou as minhas preferências, e assim, passei os meus últimos dois meses, saltitante nas minhas muletas, empolgadíssima, aguardando o momento para o meu parto natural na água.

Os benefícios do parto na água são super atraentes! A água morninha alivia a dor e ajuda a relaxar. O relaxamento impede que a mulher se sinta estressada, e isso libera o hormônio oxitocin que estimula as contrações e a dilatação do canal vaginal. A mulher, em trabalho de parto, mais relaxada, também produz mais endorfina, que alivia a dor naturalmente evitando o uso de remédios. A água também permite a movimentação mais fácil da mulher para se posicionar na hora “H”, já que o corpo flutua. Além disso, a água ajuda a garantir um bom fluxo de sangue que o bebê vai recebendo da placenta continuamente durante todo o processo, isso contribui para a saída mais rápida da placenta após o parto. E pra minha paz de espírito, a elasticidade da porta de saída do bebê é obviamente bem umidificada pela água, reduzindo a necessidade de levar pontos traumáticos após o parto. Finalmente, pro bebê é uma experiência mais gentil e menos traumática já que ele muda da água pra água. No meu caso também, com a gravidez temperada pela ciática, foi realmente o parto ideal, e fortemente recomendado pelos profissionais que consultei durante a minha jornada gestacional.

Na mala pro hospital, tive que contar com a deselegância de um coador grande pro caso de “acidentes intestinais” na água, uma playlist com músicas super animadas, um roupão pra minha saída da banheirona, e uns pacotinhos de bananadas pra manter o nível de açúcar e garantir a energia para a maratona. Na mente, os exercícios de respiração que aprendi nas aulas de yoga pra gestantes foram fundamentais, o que eu apliquei de olhos fechados pelas 10 horas do início ao fim. Na água, sozinha, fui guiada e apoiada pelo meu marido e uma enfermeira por 2h e meia, numa respiração nada ofegante, no ritmo das músicas escolhidas da minha playlist. Eu relembro tudo, com os olhos molhados, lúcida de todos os segundos, orgulhosa de cada momento, sóbria de cada dor que o meu corpo sentiu, e do companheirismo fundamental do meu marido que acompanhou todas as minhas inspiradas e expiradas, e me encorajava arduamente como um preparador físico cheio de fé na sua atleta preferida.

O Gil controlava as minhas respirações quando a minha Malu saiu. “Anda com fé eu vou que a fé não costuma faiá”! Era o que tocava quando um peixe voou de dentro de mim. A enfermeira a pegou de dentro da água e a colocou nos meu braços. “Obrigada filha, por sair de cima do meu nervo ciático. Seja bem vinda”. Fiquei abraçadinha com ela por alguns minutos, admirando o meu peixinho confuso nos meus braços, e absorvendo tudo o que eu estava vivendo. Saí da banheirona sem qualquer dor na perna, e ela foi então abraçada pelo pai. Me lembro de abraçar fortemente a enfermeira que me permitiu viver aquilo, e chorei, a agradecendo muito por ela ter ajudado, junto com o meu marido, a eu alcançar a linha de chegada de maneira tão mágica. A maratona de 10 horas tinha acabado, e o meu ouro estava ali, saudável e cheio de vida!

Hoje completam sete semanas que a minha garotinha chegou ao mundo. Veio como peixe, na água, nasceu aquariana. Saí da maternidade após umas dez horas do parto ter terminado, caminhando normalmente.

Doeu? Claro que doeu! Impressionantemente, já estava tudo no passado! Eu certamente escolhi a melhor dor pra mim, a dor que eu queria viver e lembrar com tanto carinho. Não existiu qualquer trauma pós parto que não fosse a greve de sexo por seis semanas. A recomendação para cicatrização: “água para manter a região limpa e seca”. Naturalmente, tudo fechou e cicatrizou.

O medo de parto passou. A água acalmou, abraçou e finalmente eu pude viver algo belo, mágico e único que eu esperei viver pacientemente durante toda a gravidez. Quando escolhi o parto na água, não foi só a chegada da peixe Malu que estava decidida, mas como os futuros peixes da família irão chegar ao mundo. Felizes são aquelas que podem viver o parto na água. Eu consto nessa lista!

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