Bebês, Educação dos Pequenos, Mamães & Papais, Saúde

O que será que as crianças estão sentindo na quarentena?

Não está sendo fácil viver esse período de isolamento social para adultos e crianças.

Com escolas fechadas, as crianças saíram da rotina e estão vivendo um momento totalmente diferente. Confinadas 24 horas por dia dentro de casa, longe de alguns familiares e amiguinhos. ;-(

Diante dessa nova realidade, o que será que elas estão sentindo?

É importante estar atento aos sentimentos das crianças, praticar a empatia, ser honesto e acolher nossos pequenos. Vejam abaixo o importante texto da psicóloga Mariana Erlanger sobre como lidar com esse momento com as crianças.

O que será que estão sentindo e vivenciando as crianças e os bebês na quarentena com seus pais?

É tudo muito novo e diferente. Se para nós, adultos, já é difícil conseguirmos dar conta, psiquicamente, do que estamos passando, para eles, seres tão pequeninos, em desenvolvimento, é mais complicado.

Como entender o porquê não podem passear, ir à escola, ver os amigos, brincar livremente? Ouvem dos adultos: “não pode sair de casa, senão vai ficar doente”. É preciso ter cuidado com esta frase porque as crianças trabalham com o concreto e com o definitivo e não com o ponderável.  Na volta à vida lá fora, podem não querer mais sair, afinal, minha mãe disse que se eu sair vou ficar doente. É tudo muito difícil e delicado.

Será assim para sempre?

Muitas crianças ficam com essa sensação frente à angústia de não saber quando a quarentena irá acabar, de não poder riscar os dias que faltam num calendário. Então, precisamos dizer para os filhos que a vida não será desta forma para sempre. Isto vai passar e tudo vai mudar. Não voltará a ser o que era antes porque sairemos modificados, mas será sim, novamente, uma vida livre na qual poderemos nos movimentar, estar com outras pessoas, conviver e voltar à vida presencial na qual vivíamos antes. O verbo para as crianças é “estar” e não “ser”. Para eles é mais difícil entender essas diferenças pois são muito pequenos e, por isso mesmo, ainda não têm o arsenal cognitivo e emocional para elaborações dessa ordem, mas, mesmo assim, devemos insistir neste ponto: esta situação é temporária e irá passar. Em seguida, eles perguntarão quando e temos que, juntos, aguentar a falta de perspectiva. A resposta deve ser honesta: “não sei, mas quando for, será maravilhoso podermos estar com quem amamos novamente e livres para correr e brincar”.

Outra questão que se apresenta para as crianças é a morte. Não temos como negar, virou assunto inevitável nas conversas dos adultos e nos “não-ditos”, que, muitas vezes, doem mais. Mas como falar sobre isto com os pequenos? Em primeiro lugar é importante termos clareza de que as crianças estão captando tudo. Por mais que tentemos amenizar o que está acontecendo para eles, e é correto que o façamos, porque não seria bom deixá-los com medo. As crianças estão inseridas na realidade, de alguma forma sabem que o vírus pode matar e temem o pior para elas e para seus pais e parentes. Então, se a criança falar sobre o assunto, é melhor explicar com muita delicadeza e numa linguagem que ela possa entender que estamos passando por dias difíceis, mas que os adultos estão ali para protegê-la e que nada de ruim irá acontecer com ela.

Sim, neste momento, precisamos “bancar” esta garantia para o bem estar psíquico dos nossos filhos e nosso também.

Acho interessante mostrar para as crianças que não estamos ficando em casa apenas para nos proteger, mas também, para poupar o próximo. É bom reforçar com elas o valor de se importar com as outras pessoas. Seres humanos que nem conhecemos, mas que podemos ajudar a evitar que adoeçam, não saindo de casa. Trazendo esta conscientização para os filhos, desde pequenos, os pais estão colaborando para criar uma geração com maior empatia.

Ao ficarem restritas às suas casas, as crianças permanecem mais tempo com seus aparelhos eletrônicos, de frente para as mil telas. Mesmo para elas que são nativos digitais, como bem denominou o norte americano Marc Prensky, não são compreensíveis o tanto de tela e o pouco de convívio social. Mas, mesmo assim, não vejo problema, neste momento, o uso maior de eletrônicos, como se diz: “é o que tem para hoje”.

Com os bebês é tudo muito sensorial, eles absorvem nossos sentimentos, captam nossas emoções e respondem a isso. Com eles, o melhor a fazermos é tentarmos manter o lúdico frente a um mundo agora restrito. Estar com eles de forma profunda, dando sentido ao tempo vivido. Para isso, dentro do possível, não devemos esquecer de narrar o dia-a-dia: vamos tomar o banho agora? Olha a água caindo! Por que está chorando? Será que é fome, sono, talvez uma cólica? Continuar nomeando o mundo ao seu redor e fazer da rotina um refúgio. Aquela que for possível, será a rotina da vida deles agora, sem grandes cobranças. É um tempo completamente atípico e novo.

Os pais nunca erram porque em tudo que fazem está presente a intenção amorosa, então, o bom é seguir o que o coração manda, sem achar que existem regras. Ainda mais neste momento, faz-se o que é possível. Ninguém tem, nunca teve nem terá, um manual do que é certo ou errado. Cada família tem sua dinâmica e vai superar tudo isto com calma e amor. Sei que manter a calma neste momento é difícil porque estamos precisando dar conta de muita coisa ao mesmo tempo. Mas, manter uma casa num clima de paz e tranquilidade para os bebês e as crianças ajuda muito.

E quando tudo isso passar?

Não, agora não precisamos pensar nisto, vamos um passo de cada vez. Quando, enfim, pudermos sair de casa, e olha que não passou tanto tempo assim para já estarmos tão modificados, viveremos grandes novidades. É importante ter esperança e transmiti-la para as crianças, porque dias melhores virão. E, depois de vencermos esta batalha, teremos em nossos filhos uma nova geração forte, guerreira e, ao mesmo tempo, meiga, suave e tranquila.

 

Mariana Pierotti Erlanger é psicóloga, psicanalista, mestre em psicologia pela PUC-Rio e diretora da Bom Tempo creche-escola / @crechebomtempo.

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